Pesquisas no Cariri Cearense


O LIGERIA é um
espaço científico complementar que visa aprofundar reflexões, investigações e intervenções a partir da construção de conhecimento teórico-metodológico sob a ótica do repensar a interdisciplinaridade.

Objetiva ser um espaço onde meus estudantes poderão debater e aprofundar estudos com fim de pesquisa e extensão a partir pelos eixos de trabalho propostos, a saber:
- Gender e queer studies;
- Região e religiosidades;
- Cultura indígena e afro-brasileira.













quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Para além do catolicismo: a presença evangélica em Juazeiro do Norte


Para além do catolicismo: a presença evangélica em Juazeiro do Norte[1]


Priscila Ribeiro Jeronimo, URCA[2]
Renata Marinho Paz, URCA[3]

Resumo:
O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados de uma análise exploratória sobre o campo religioso em Juazeiro do Norte, com foco no avanço pentecostal. No Cariri, o catolicismo exerce forte influência, devido à centralidade da figura do Padre Cícero, sendo evidentes as estratégias de setores políticos e religiosos católicos para evidenciar uma memória religiosa calcada no catolicismo, baseada nas romarias e no Padrinho, concebidos como elementos identitários da cidade. Assim, a visão da presença e expansão de outras religiões é ofuscada, sendo notável a ausência de estudos sobre a temática, o que torna relevante investigar o caso da presença evangélica na localidade.
Palavras-chave: Juazeiro do Norte, análise exploratória, campo religioso, pentecostais.
Abstratc: The aim of this paper is to present the results of an exploratory analysis on the religious field in Juazeiro, focusing on the advancement Pentecostal. In Cariri Catholicism exerts a strong influence, because of the centrality of the figure of priest Cicero, being clear strategies for political and religious sectors to show a Catholic religious memory grounded in Catholicism, based on pilgrimages and the centrality of the Godfather, conceived as identity elements the city. Thus, the view of the presence and expansion of other religions is overshadowed, was a notable absence of studies on the subject, making it relevant to investigate the case of evangelical presence in the locality.
Keywords: Juazeiro, exploratory analysis,religious field , pentecostal.

Introdução
Este artigo tem como objetivo analisar a presença evangélica em Juazeiro do Norte, em especial, os evangélicos pentecostais, um dos segmentos religiosos de maior ascendência no Brasil. Esta análise pretende contribuir para a construção de uma visão mais aprofundada e ampliada do campo religioso na região Cariri, em especial em Juazeiro do Norte, considerando outras formas de crenças, práticas e representações religiosas, contemplando, sobretudo, a exploração e análise do crescimento dos pentecostais na cidade.
Juazeiro é uma cidade que vive política, econômica e religiosamente em torno da figura do Padre Cícero, personagem influente que transformou essa terra em um espaço sagrado do catolicismo popular. Diante desse quadro de hegemonia do catolicismo, estudos sobre as demais expressões religiosas na cidade são praticamente inexistentes, a despeito da expressiva produção acerca dessa temática no país e na América Latina.
Este estudo insere-se num panorama mais amplo, e que pode ser considerado tomando-se por base os dados dos Censos das últimas quatro décadas, que revelam que esse crescimento não é recente, e denotam ainda que a religião dos brasileiros não pode ser mais considerada com base na exclusividade do catolicismo. Conforme Sanchis:

Há duas ou três gerações, falar em “religião dos brasileiros” seria apontar quase que exclusivamente para o catolicismo. Isso mudou. Hoje o catolicismo constitui cada vez mais uma das religiões, entre outras, dos brasileiros, e num movimento diversificador que se acelera. Não se trata só de números (...), mas de algo qualitativo, de um problema identitário. (SANCHIS, 2001, p. 10)

O Censo 2000, mostra as transformações em relação à religiosidade dos brasileiros, sintetizadas no gráfico abaixo:

           
            O número de católicos diminuiu consideravelmente, principalmente na última década, o número de evangélicos cresceu, e os sem religião também cresceram, reformulando um quadro das religiões no Brasil.
É importante observar que evangélicos, de acordo com o Censo 2000, englobam protestantes históricos e pentecostais. Na denominação dos protestantes há um pequeno crescimento, mas a expressão dos evangélicos que ascendem mais são os pentecostais. Dentro do campo pentecostal, a denominação que cresce mais são os neopentecostais, que agregam e ressignificam as particularidades das outras ondas, tais como: os dons do Espírito Santo (do pentecostalismo clássico) e a cura (dos deuteropentecostais).

A construção pentecostal no Brasil

            O pentecostalismo nasceu no Brasil, em 1910, com a criação da Igreja Congregação Cristã, fundada pelo italianao Luigi Francescon que, antes de chegar ao Brasil, adquiriu características do movimento holiness nos Estados Unidos, que batizavam as pessoas no Espírito Santo (ANTONIAZZI, 1994, p.67-158). A segunda igreja pentecostal foi a Assembléia de Deus, fundada no Brasil por missionários suecos e instalados em Belém (PA), constituindo-se na maior igreja pentecostal do país (MARIANO, 2010, p. 24). Essas duas denominações baseiam-se no batismo no Espírito Santo, e são denominadas de pentecostais clássicas, devido a seu caráter pioneiro no Brasil.
            A segunda onda, ou o deuteropentecostalismo, instituiu o movimento de cura no país, e é formada pelas igrejas: Evangelho Quadrangular, Brasil para Cristo e Deus é amor. A terceira onda, ou neopentecostais, é formada no fim da década de setenta e hoje tem como alguns de principais expoentes as igrejas Universal do Reino de Deus, a Internacional da Graça, a Renascer em Cristo, a Mundial do Poder de Deus, entre outras, formando uma vertente assentada na tríade: cura-exorcismo-prosperidade. Os evangélicos pentecostais possuem muitas denominações, cada uma com uma característica, um jeito de ser.
Essas ondas modificaram e ressignificaram o movimento pentecostal em nosso país. Sobre esse crescimento, Mariano afirma que:

No Brasil, a expansão pentecostal não é recente nem episódica. Ocorre de modo constante já há meio século, o que permitiu que o pentecostalismo se tornasse o segundo maior grupo religioso do país. (...) o pentecostalismo vem conquistando crescente visibilidade pública, legitimidade e reconhecimento social. (MARIANO, 2004, p.121)

É interessante notar que, no início dos anos noventa, as religiões que se enquadravam fora do que se considerava como a estrutura central do campo religioso no Brasil, ou seja, católicos ou protestantes, eram vistos como seitas, com uma certa acentuação pejorativa. Na coletânea Sinais dos tempos (1989), por exemplo, vários artigos utilizavam a denominação seita como algo separado, fora do lugar, reificando uma interpretação calcada na estrutura acima mencionada sobre as outras denominações religiosas. Essa leitura católica sobre o pentecostalismo deriva, principalmente da pregnância simbólica que o catolicismo representa, como uma religião que influencia matricialmente a constituição das outras religiões. Para isso diz Sanchis:
É a existência de uma referência generalizada ao cristianismo, talvez mais ainda ao catolicismo. Referência certamente resultante de imposição histórica (...) enquanto condição de entendê-la como universo simbólico cuja marca é em toda parte detectável (...). É bastante comum os pesquisadores ficarem impressionados por esta presença continuada, polivalente conforma as regiões geográficas e sociais, de uma pregnância- influência dominadora. (SANCHIS, 2001, p.19. Grifos nossos)

Brandão (2004) afirma a existência uma estrutura que caracteriza o campo religioso no Brasil, no qual se pode ver essa influência dominadora da religião católica, ficando ela e o protestantismo histórico no centro; o candomblé, a umbanda, o espiritismo e o pentecostalismo do lado esquerdo dessa estrutura, e as culturas minoritárias, os judeus e os budistas, do lado direito. Essa estruturação proposta por Brandão pretende mostrar que as religiões que não se encontram no centro são percebidas no imaginário religioso popular, muitas vezes, como falsas religiões, principalmente para o catolicismo, que acredita existir uma fronteira simbólica entre ele e as demais religiões.
Essa estrutura pouco se modificou, o que se observa é a mudança na dinâmica deste campo, devido a constituição de um mercado religioso, que tem como um de seus traços distintivos, a degradação das identidades herdadas (HERVIEU-LÉGER, 2008); as pessoas podem transitar com relativa liberdade entre as religiões que desejarem, como também podem unir práticas distintas. Observa-se essa dinâmica no continente latinoamericano, onde a pluralização religiosa é algo em expansão, e o pentecostalismo aparece como religião crescente, que sintetiza elementos modernos e populares (SÉMAN, 1997).
O pentecostalismo se fortificou, usando do sincretismo, contribuindo para a reelaboração do caldo da religiosidade brasileira. Nesse sentido, os neopentecostais, sobretudo, absorvem, se apropriam e ressignificam elementos das religiões afro e do catolicismo popular, e se utilizam disso para combater essas crenças. Com isso, principia-se o estabelecimento de uma alternativa cultural e política, o que reformula o lugar dos pentecostais na dinâmica religiosa brasileira. Quanto mais o Brasil torna-se pentecostal, mas o pentecostalismo se torna brasileiro; entenda-se: semelhante e constituinte do caldo “católico-afro-kardecista” (ALMEIDA, 2008), onde se pode pensar em uma construção de uma cultura pentecostal, que sincretiza e reelabora o seu lugar nessa dinâmica.
Os neopentecostais constituem uma vertente que usa a tríade: cura- exorcismo-prosperidade. Os fiéis buscam, no dia do exorcismo, a libertação face a espíritos, demônios, doenças, mal olhado, problemas afetivos, espirituais e materiais e, através do exorcismo, elas acreditam se curarem. 

Seus cultos basearem-se na oferta especializada de serviços mágico-religiosos, de cunho terapêutico e taumatúrgico, centrado em promessa de concessão divina de prosperidade material, cura física e emocional e de resolução de problemas familiares, afetivos, amorosos e de sociabilidade. Oferta sob medida para atender as demandas de quem crê que pode se dar bem nessa vida e neste mundo recorrendo a instituições intermediárias e de forças sobrenaturais. (MARIANO, 2004, p. 124)
                         
A prosperidade é outra base dessa tríade neopentecostal. Essas igrejas funcionam como empresas, onde o fiel é um sócio de Deus, que paga seus dízimos, para receber algo em troca. Segundo essa teologia, baseada num toma-lá-cá, o acordo que o fiel faz, tem que ser realizado no presente, no aqui e agora. Essa peculiaridade das neopentecostais contribui para uma maior integração entre igreja e comunidade, que inclui as pessoas em suas práticas, pois o fiel sempre encontra a igreja aberta, e sempre existe um culto com horários flexíveis, um pastor, um obreiro que está disponível para esse fiel. Essa integração gera um sentimento de pertença no fiel, além de possibilitar uma maior sociabilidade, fazendo com que os fiéis se identifiquem com a igreja, com o que ela apresenta como princípios e valores, compartilhando esse sentimento em comum, gerando o vínculo do indivíduo com a igreja.
Essas igrejas chamam bastante atenção, principalmente por causa do elemento prosperidade, sendo muito criticadas em relação a essa nova teologia de fé. As outras igrejas, que apresentam uma afinidade negativa com essa perspectiva de prosperidade, principalmente a igreja católica, criticam e põem um olhar etnocêntrico sobre ela.  Alguns autores, como Landim (1989), por exemplo, também conferem certa tônica negativa, categorizando os fiéis como vítimas dessas igrejas, atribuindo um olhar pejorativo sobre os neopentecostais.
Diante desse quadro, autores como Lemuel Guerra, afirmam que:
A lógica mercadológica sob a qual a esfera da religião opera produz, entre outras coisas, o aumento da importância das necessidades e desejos das pessoas na definição dos modelos de práticas e discursos religiosos a serem oferecidos no mercado.  Ao mesmo tempo, demanda das organizações religiosas maior flexibilidade em termos de mudanças de seus “produtos” no sentido de adequá-los da melhor maneira possível para a satisfação da demanda religiosa dos indivíduos. (GUERRA, 2003, p. 01)

            É nessa lógica que é produzido um ethos do consumo espiritual, onde os segmentos religiosos mostram afinidades que são compatíveis com o que o fiel- consumidor procura. Por isso o neopentecostalismo inova, assim como outras igrejas, que hoje vêem esse crescimento da oferta de bens religiosos para o consumo imediato. As igrejas neopentecostais promovem um leque de atividades para as demandas dos fiéis como, por exemplo, possuir um dia especial para cada culto, como o dia da prosperidade, o dia do exorcismo, o dia da família, aonde o fiel ou freqüentador vai e encontra o que deseja consumir satisfazendo, assim, suas diferentes necessidades.
Juazeiro do Padre Cícero
Entre os centros de romaria brasileiros, poucos rivalizam com a quantidade de devotos que afluem a Juazeiro do Norte.[4] Eminentemente populares, a singularidade das romarias a Juazeiro reside no fato de que configura um movimento fundado numa heresia, baseado na devoção a Padre Cícero, um santo não canonizado oficialmente pela igreja católica. Para o devoto, Padre Cícero é tudo:
(...) santo, patriarca, padrinho, profeta, padre, político, conselheiro, pai, amigo, médico, modelo, mediador, intercessor, chefe, homem de oração e de ação, promessa, nostalgia do passado, esperança de um futuro melhor, o ancestral, enfim, suas próprias raízes (GUIMARÃES, 1983, p. 287. Tradução minha).

As romarias a Juazeiro do Norte foram engendradas em fins do século XIX, em torno da questão religiosa decorrente dos milagres da hóstia, envolvendo o padre Cícero, a beata Maria de Araújo e a hierarquia eclesiástica. De pequeno vilarejo, que nesse período era apenas um distrito do município do Crato, à condição de maior cidade da região centro sul do Estado do Ceará, capitaneando a chamada Região Metropolitana do Cariri (que engloba também os municípios de Crato e Barbalha), Juazeiro do Norte erigiu-se em torno da figura e da centralidade do Padre Cícero e das romarias em sua devoção. Não é exagero afirmar que Juazeiro vive e cresce em função desses dois elementos, que engendram uma ampla mobilização em termos econômicos, políticos, sociais e culturais [5], conferindo ao Cariri ampla visibilidade. 
Ao longo de sua história, Juazeiro ou, melhor dizendo, a região do Cariri constituiu-se num espaço de afluência de um imenso caleidoscópio de práticas sócio-religiosas e culturais, que vieram junto com os romeiros, provenientes dos vários estados nordestinos. No Cariri encontra-se um verdadeiro caldo composto pelos valores, pelas identidades, enfim, pela cultura de uma parcela expressiva da população brasileira. Tudo isso confere à região um lugar de destaque na paisagem cultural não só sertaneja, mas também nacional.     
            Uma das faces mais evocadas é o Cariri da religiosidade popular, ancorada no catolicismo, resultado talvez do esforço de construção de uma forma unívoca de representação, visando a reafirmação de uma identidade caririense. Nesse esforço, o padre Cícero assume um papel basilar, por se constituir no cerne de uma das maiores romarias da América Latina, atraindo anualmente cerca de dois milhões de pessoas.
De um modo geral, os trabalhos sobre Juazeiro e padre Cícero tendem a reafirmar um discurso pautado na catolicidade da região, servindo de base para a retórica da própria igreja católica e de setores interessados nas romarias, tais como poderes públicos municipais e estaduais, que vêm, de forma bastante incisiva, sobretudo na última década, afirmando a figura do padre Cícero como central, através das ações de especialistas que tentam mobilizar uma “memória religiosa”, baseada na história do Padrinho e da presença da Igreja católica no engendramento de Juazeiro.
            Evidentemente outros elementos também contribuíram diretamente para essa ênfase – afinal não se deve perder de vista que as romarias e o próprio Padre Cícero foram, paradoxalmente, alvo de um intenso combate quase secular, tanto por parte da igreja católica, quanto pelas elites locais.  Entre esses elementos destacam-se as alterações promovidas por alguns setores da igreja católica, fundadas na perspectiva multiculturalista pós-conciliar, a concorrência no mercado religioso derivada, sobretudo, do avanço pentecostal, e dos fortes interesses econômicos e políticos que envolvem as romarias[6].
Ao se questionar os limites dessa catolicidade, não se pretende, obviamente, negar o peso da presença e força católica na região, especialmente em Juazeiro do Norte. Os dados do último censo realizado pelo IBGE em 2000 revelam que a população católica em Juazeiro é de 93,8%, ao passo que os evangélicos, por exemplo, somam 4,48%. Mas as projeções para o ano de 2007 (há quase meia década, portanto), revelam uma expectativa de crescimento para 10,4% da população evangélica na localidade[7]. Paralelamente, há que se considerar a presença efervescente de diferentes religiões e sistemas espirituais de sentido. Aqui, pelo menos duas questões-chave podem ser colocadas: até que ponto essa predominância católica não mascara um mundo fervilhante de crenças e práticas religiosas? Essa mesma predominância também não tende a subjugar a presença e o avanço pentecostal, considerado o fenômeno religioso mais notável no campo religioso brasileiro contemporâneo?

Análise exploratória do campo religioso da cidade

A pesquisa “A fé que se move: avanço pentecostal em Juazeiro do Norte (CE)”, é um estudo pioneiro que vem sendo desenvolvido há nove meses, e aponta alguns elementos de interesse para a compreensão do campo religioso em Juazeiro do Norte. Trata-se de uma exploração ainda em curso, realizada no âmbito do Programa de Iniciação Científica da Universidade Regional do Cariri (URCA), vinculada ao Núcleo de Estudos Regionais (NERE) desta instituição, financiada pelo CNPq.
Este trabalho de exploração do campo religioso em Juazeiro do Norte teve início com o levantamento, sem sucesso, de dados junto a órgãos públicos e instituições oficiais de diferentes naturezas acerca da presença das igrejas evangélicas pentecostais no município. Diante desse quadro, optou-se por buscar as informações a partir de contatos diretos com as lideranças das igrejas, a partir do método de investigação bol. Para obter as informações acerca da localização das igrejas foi preciso bater de porta em porta, visitando uma igreja de uma denominação, e com isso, obter o endereço de outras.
A partir daí, construiu-se um quadro com as igrejas encontradas em Juazeiro e passou-se buscar elementos pertinentes a sua configuração sócio-econômica (VER ANEXO 1). Até o presente momento existem na cidade: quarenta e uma Assembléias de Deus, sendo trinta e três do Templo Central; seis do Montese; uma da Bela Vista, e uma Quinzanga para o Rio de Janeiro; dezenove Congregações Cristãs; duas Deus é Amor; duas Família Viva; uma Betel; uma Deus Revelado Missão; uma Ide e Pregai; uma Cristã Manacial Fonte de Vida; uma Assembléia de Deus Manain; uma Betesda; uma Renascer; três Universais do Reino de Deus; uma Internacional da Graça, uma Mundial do Poder de Deus.
Todas as igrejas neopentecostais (Universal, Internacional e Mundial) estão localizadas no centro da cidade. No entanto, a maior parte das igrejas se encontra nos bairros Tiradentes, Franciscanos e Triângulo, sendo interessante notar a presença das igrejas Assembléia de Deus e Congregação Cristã no bairro Horto, um espaço sagrado, local de residência tradicional e preferencial de romeiros que decidem se fixar na cidade, pois no local se encontra a estátua do Padre Cícero.
Com esse mapeamento, até o momento, foram realizadas visitas à Assembléia de Deus (Templo Central e Montese), Família Viva, Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça, Mundial do Poder de Deus, Ide e Pregai. No decorrer dessas observações foi verificada a periodicidade dos cultos, os temas, e a configuração das características específicas de cada uma delas. Foram realizadas entrevistas estruturadas e semi-estruturadas, além de conversas informais com os fiéis e lideranças religiosas, de modo a contribuir para a construção do perfil sócio-econômico de algumas denominações.
É interessante notar que todas as igrejas visitadas foram acessíveis, algumas com certo receio, como a Universal, que teme fornecer informações e essas serem transformadas em algo que denigra a imagem dos fiéis e da igreja, mas que, com a paulatina freqüência dos pesquisadores, acabou viabilizando aproximação face à pesquisa. Outras foram mais abertas, disponibilizando, como exemplo, a ficha de membros, como as igrejas Internacional da Graça e Ide e Pregai.
Foram aplicados questionários (VER ANEXO 2), junto aos fiéis de três igrejas: Assembléia de Deus Templo Central, apresentando os seguintes resultados preliminares: uma predominância feminina (64% ), jovem (68% na faixa etária de quinze a trinta e cinco anos) e de baixa renda (64% têm renda de um a dois salários mínimos), com ocupações diversas, tais como: estudante, domésticas, professores, comerciários, operários, entre outros. Em relação à religião dos progenitores, há uma predominância de pais católicos e mães evangélicas. A maioria é de católicos que se converteram, e a maioria simpatiza por igrejas evangélicas do protestantismo histórico, como a Batista e do neopentecostalismo, como a Internacional da Graça.
Esse levantamento preliminar também foi feito na igreja Deus é Amor, onde há poucos fiéis (apenas cinqüenta fiéis, das duas denominações que existem na cidade). Dos entrevistados, a maioria era de mulheres, sendo que a maior parte dos membros (80%) possui idade acima de trinta e seis anos e nível de renda bastante baixo (90% com renda inferior a dois salários). Em relação à religião dos pais, há predominância de pais e mães católicos, sendo notável também a conversão dos católicos para essa igreja. Mas é interessante notar que esse movimento não é, necessariamente, linear (na direção catolicismo-pentecostalismo). Numa das conversas com os entrevistados, um deles afirmou: Eu venho para a igreja por que a minha mulher gosta, e eu acompanho, mas depois eu volto para a nossa igreja. (Entrevista com um fiel da igreja Deus é Amor, realizada no dia 17/04/2011, em Juazeiro do Norte) O entrevistado se referia ao catolicismo, e em sua colocação, é importante ver o movimento de trânsito religioso, pois mostra que o processo de conversão não acaba as possibilidades dos fiéis de voltarem, ou mudarem de opção religiosa.
Na igreja Ide e Pregai (que conta com cerca de oitenta e cinco fiéis), dos entrevistados, 60% de mulheres e 40% de homens, com 70% com idade acima de trinta e seis anos, onde 70% possuem renda superior a três salários; 90% dos pais são da religião católica, e as mães 60% são católicas.
A maioria dos entrevistados gosta das igrejas por que foi onde se encontraram com Deus, por que se identificam com a doutrina e com a interpretação do evangelho. O pertencimento a essas igrejas os fariam ver melhor a vida, porque são igrejas verdadeiras. Esses elementos puderam ser observados de maneira intensificada, por exemplo, em uma cerimônia de batismo Assembléia de Deus Templo Central, em que uma fiel disse se batizar por buscar a salvação, por que eu não me lembrava como eu tinha sido batizada, e agora eu tenho consciência do meu batismo, da minha escolha. Indagada sobre o que representava o batismo, a mesma senhora respondeu: Jesus me tocou, me chamou, era um desejo, em conhecer a verdade.[...] Uma emoção muito forte, eu creio e ele nunca vai sair de mim, eu me renovei, entrei em uma nova vida. (Entrevista realizada em 28/11/2010).
De acordo os dados preliminares obtidos, pode se perceber a figura do convertido em Juazeiro do Norte. Essa figura, segundo Hervieu-Léger (2008), a partir da crise de identidades religiosas herdadas, viabiliza um favorecimento da circulação dos crentes em busca de uma identidade religiosa a qual se adequem melhor. Esse processo, que está ocorrendo gradativamente na cidade, a partir da presença e da visibilidade cada vez mais expressiva dos crentes, aponta para o esfacelamento e a possibilidade de reconstrução das identidades herdadas fora dos marcos do catolicismo, já que a maioria dos entrevistados nasce na religião católica, mas procuram alternativas religiosas, e o pentecostalismo aparece como um segmento que se multiplica de maneira significativa na cidade.




















REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livro:
ANTONIAZZI, Alberto... I et al. I Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
GUIMARÃES, Therezinha Stella. Étude psychologique de la function d’un saint dans El catholicism populaire – Pe. Cícero et la religion du nordestin (Brésil).Louvaine: UCL, 1983.   
HERVIEU-LÉGER, Danièle. O peregrino e o convertido: a religião em movimento; tradução de João Batista Kreuch. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
MARIANO, Ricardo. Neopentecostais. Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. SP: Loyola, 2010.
SANCHIS, Pierre. Fiéis e cidadãos. Percursos de sincretismo no Brasil. RJ: EDUERJ, 2001.

Organização de livro:
LANDIM, Leilah (Org.). Sinais dos tempos. Igrejas e seitas no Brasil. RJ: Instituto de Estudos da Religião (ISER). RJ, 1989.

Artigo:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. “Fronteira da fé- alguns sistemas de sentido, crenças e religiões no Brasil de hoje”. Estudos avançados. vol.18, n°. 52, São Paulo, setembro a dezembro de 2004.
MARIANO, Ricardo. Expansão pentecostal no Brasil: o caso da Igreja Universal. Estudos avançados. vol.18, n°. 52, São Paulo, setembro a dezembro de 2004.
SEMÁN, Pablo. “Religión y cultura popular em la ambígua modernidade Latinoamericana”. In: Nueva Sociedade Nro. 149. Maio-Junho, 1997, p.130-145.

Artigo na internet:
ALMEIDA, Ronaldo. Os pentecostais serão maioria no Brasil? In: Revista de Estudos da Religião-REVER. ISSN: 1677- 1222. Disponível em: < www.pucsp.br/rever/rv4_2008/t_almeida.pdf>>. Acesso em 01/11/10.
GUERRA, Lemuel. As influências da lógica mercadológica sobre as recentes transformações na Igreja Católica. In: Revista de Estudos da Religião-REVER. ISSN: 1677- 1222. Disponível em: < www.pucsp.br/rever/rv2_2003/p_guerra.pdf >. Acesso em 29/09/10


[1] Trabalho apresentado no XII Simpósio da ABHR, 31/05 – 03/06 de 2011, Juiz de Fora (MG), GT (19): Protestantismos e pentecostalismos na modernidade.
[2]  Bacharelanda em Ciências Sociais na Universidade Regional do Cariri-URCA. Bolsista de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq.
[3] Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará-UFC. Professora adjunta da Universidade Regional do Cariri-URCA e coordenadora do Núcleo de Estudos Regionais desta instituição. 

4 O calendário religioso das romarias é composto por quatro grandes ciclos: as romarias de Natal e Reis, em fins de dezembro e início de janeiro; a romaria de Candeias, em fins de janeiro/início de fevereiro; a romaria de Nossa Senhora das Dores, padroeira da cidade, em meados de setembro e a romaria de Finados, em fins de outubro/início de novembro. Entretanto, além desses ciclos, há outras datas que costumam atrair um fluxo significativo de romeiros, como a Semana Santa e os aniversários de nascimento e morte do Padre Cícero.
5 Para maiores informações sobre a história de Juazeiro do Norte, Padre Cícero e as romarias, ver DELLA CAVA (1976); OLIVEIRA (1998); ALENCAR (2005); PAZ (2005), entre outros.
6 Ver PAZ (2005).
7 Projeções elaboradas pelo MAI (Ministério de Apoio com Informação). In www.mai.org.br (acesso em 22/06/09) 















ANEXO 1: INFORMAÇÕES SOBRE OS ENDEREÇOS POR BAIRRO CONSEGUIDOS COM O MAPEAMENTO, ATÉ O PRESENTE MOMENTO.

Juazeiro do Norte se encontra no Sul do Estado do Ceará, distante cerca de 560 km de Forta-leza, pela BR 116. É a maior cidade do interior cearense, a área do município é de 249 km2. Faz limite ao norte, com Caririaçu; ao sul, com Barbalha; a leste, com Missão Velha e a oeste, com Crato, possui cerca de 250 mil habitantes[7], tem 29 bairros, e 2 distritos.
As igrejas mapeadas, até o presente momento, localizam-se da seguinte maneira:

CENTRO:
Igreja Universal do Reino de Deus
Igreja Pentecostal Betesda
Grupo de Comunhão e Desenvolvimento Igreja Apostólica Renascer
Igreja Internacional da Graça de Deus
Igreja Mundial do Poder de Deus
Assembléia de Deus Templo Central
Assembléia de Deus Montese
Deus é Amor
TIRADENTES:
Igreja Universal do Reino de Deus
Três Igrejas Assembléias de Deus Templo Central
Congregação Cristã
TRIÂNGULO:
Igreja Universal do Reino de Deus
Assembléia de Deus Templo Central
Congregação Cristã
Família Viva
FRANCISCANOS:
Assembléia de Deus Templo Central
Congregação Cristã
ROMEIRÃO:
Assembléia de Deus Templo Central
Congregação Cristã
FREI DAMIÃO:
Três Assembléias de Deus Templo Central
Assembléia de Deus Montese
CASAS POPULARES:
Assembléia de Deus Montese
Assembléia de Deus Quinzanga para o Rio de Janeiro
SANTA TEREZA:
Assembléia de Deus Templo Central
Família Viva
Assembléia de Deus Manain
NOVO JUAZEIRO:
Assembléia de Deus Templo Central
SÃO JOSÉ:
Quatro Assembléias de Deus Templo Central
Assembléia de Deus Montese
JOÃO CABRAL:
Assembléia de Deus Templo Central
Assembléia de Deus Montese
Deus é Amor
ANTONIO VIEIRA:
Igreja Pentecostal Betesda
Assembléia de Deus Templo Central
Congregação Cristã
LIMOEIRO:
Assembléia de Deus Bela Vista
MULTIRÃO:
Duas Congregações Cristãs
AEROPORTO:
Congregação Cristã
Igreja Deus Revelado Missão
HORTO:
Assembléia de Deus Templo Central
Congregação Cristã
SALESIANOS:
Congregação Cristã
JUVÊNCIO SANTANA:
Assembléia de Deus Templo Central
Congregação Cristã
BETOLÂNDIA:
Congregação Cristã
LEANDRO BEZERRA:
Assembléia de Deus Templo Central
Congregação Cristã
TIMBAÚBAS:
Igreja Ide e Pregai Renovada
Assembléia de Deus Templo Central
Assembléia de Deus Montese
CAMPO ALEGRE:
Congregação Cristã
JARDIM GONZAGA:
Assembléia de Deus Templo Central
PEDRINHAS:
Assembléia de Deus Templo Central
JARDIM GONZAGA:
Assembléia de Deus Templo Central
JOSÉ GERALDO DA CRUZ:
Congregação Cristã
VILA TRÊS MARIAS:
Assembléia de Deus Templo Central
VILA NOVA:
Assembléia de Deus Templo Central
SÍTIO LEITE:
Assembléia de Deus Templo Central
Congregação Cristã
SÍTIO SÃO GONÇALO:
Congregação Cristã
SÍTIO UMARI:
Congregação Cristã
PIRAJÁ:
Igreja Cristã Manancial Fonte de Vida




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